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domingo, 22 de setembro de 2013

Aeroporto Gago Coutinho

Aeroporto Gago Coutinho (fonte: "internet")

está uma idéia feliz, em inaugurar-se a nova es­tação aérea de Lourenco Marques no dia 17 de Ju­nho, comemorando-se a chegada ao Rio de Janeiro dum frágil hidravião mono-motor, sem rádio nem apoio marítimo, sem patrocínios poderosos nem publicidades sensacionalistas. Cha­mava-se o aparelho «Lusitânia», tripulavam - no um senhor piloto Sacadura Ca­bral e um senhor navega­dor Gago Coutinho, sendo que este último ia a expe­rimentar um sextante de sua invenção, com horizon­te artificial, que depois ha­via de ser usado por todos os navegantes.
Também foi uma idéia brilhante, essa de chamar ao nosso campo de avia­ção o Aeroporto Gago Cou­tinho, homenageando o marinheiro e o cientista, o in­cansável geógrafo que tan­to trabalhou em Moçambi­que e do seu trabalho dei­xou valiosos resultados ain­da bem patentes, como se verifica facilmente nos Ser­viços Geográficos e Cadas­trais, como confirmam, à uma, todos os topógrafos e agrimensores de Moçambi­que. Além disso, Gago Cou­tinho sempre ficou ligado a esta tetra pelo sentimento da saudade e a sua pele rugosa de velhinho nunca mais se libertou da lem­brança doce das brisas do Índico.
Vendo bem, Gago Coutinho foi, dos portugueses contemporâneos, a figura melhor representativa das mais positivas qualidades do espírito luso — já se pensou nisso?
Ele era destemido e sá­bio, trabalhador e genero­so, abnegado e tolerante, sedento de universo, famin­to de humanidade, realizando o mundo português num plano tão acima da política e dos negócios, que nunca se apercebeu, por exemplo, de que o Bra­sil era um país indepen­dente. Fronteiras, onde es­tavam elas?/ O Atlântico? ... Mas não era seu, o Atlântico? Não o galgara ele? Não o continuara a vencer, tantas e tantas ve­zes, por ar ou pela superfície, quase até morrer? A língua?... Mas era a mes­ma, senhores! Os amigos, os admiradores, os colegas, os discípulos? Ora, onde os teria ele mais numerosos? No Rio de Janeiro ou em Lisboa? Dir-se-á, em Lis­boa, que Gago Coutinho era muito lisboeta. Pode di­zer-se, no Rio, que era muito carioca. Então? Onde fica a pátria do Almirante?
Felicíssima idéia, essa de darem o nome de Gago Coutinho ao aeroporto de Lourenço Marques. Um  velhinho que ilustrou na Terra a promessa do Evange­lho: os últimos serão os primeiros e os primeiros serão  os  últimos. Morreu famoso e ficou célebre, ainda que vivesse humilhando-se e procurando apagar-se. Podia ter sido um dos notáveis da época, um pre­sidente do conselho de administração. um deputado ou coisa assim, podia ter sido, enfim, tanta coisa, e ficou só oficial de marinha reformado. Mas cidadão do mundo, é verdade: tran­seunte enternecido de ocea­nos; português com pureza, porque despido de idéias de domínio, lavado de di­videndos.
Ele encarnava, sem dúvida, o espirito lusitano. O autêntico. O que pode sub­sistir, porque transcende as contingências históricas.
Agora, que inauguraram a bela estação  aérea de Lourenço Marques  no dia em que passava o 41.0 aniversário   da   travessia do Atlântico  Sul  em  avião e que lhe deram o nome de Gago   Coutinho,  só falta uma coisa para completar a homenagem justa e, até,  o    conjunto arquitectónico da aerogare: a estátua do Almirante,   em   frente do edifício.  Estou  a lembrar-me dum enorme Leonardo da Vinci, que se ergue em frente do moderno aeropor­to de Fiumicino, em Roma. E, embora me tenha habituado a antipatizar com es­tátuas, bustos  e lápides, neste caso, sou pela está­tua.

[A Voz de Moçambique, Lourenço Marques, ano IV, nº 96, 29 de Junho de 1963, p. 12]

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Esta foto traz lembranças boas e más, no tempo histórico de Moçambique, em que está inserida.
    Só que na ditadura daquela época, que tinha tanta coisa pior que na governação atual, os turistas ainda podiam tirar fotos de lugares públicos.

    Hoje ao se desembarcar num aeroporto moçambicano e se não for rápido no clicar, terá logo um policial pela frente colocando rudemente o dedo no nosso nariz dizendo; "é proibido tirar foto!"
    Se ele for "tolerante" você salva as fotos pagando um "refresco porque está muito calor pá!"
    Confesso que fiquei surpreso com tais rudes modos, pois já fotografei a ONU em Genebra, Buckingham Palace, a casa do primeiro ministro inglês (com um policial desarmado sorrindo na foto), vários aeroportos mundo afora, etc, etc E ninguém me pôs o dedo no nariz.
    Será que isso ainda é ranço da ditadura pós-independência? Ou será que confundem o click da máquina com o click do engatilhar uma arma?
    A segurança pública moçambicana e as diversas secretarias de turismo regionais, não pode continuar comportando como analfabetos. Nunca ouviram falar em google earth?
    Qualquer cidadão fora da China e Irão, e outras ditaduras paradas no tempo, tem acesso a esse programa gratuitamente. Com ele se pode ver até o penico esquecido em qualquer jardim caseiro de Moçambique ou qualquer parte do mundo.
    E que eu saiba, até hoje ninguém bombardeou o penico de nenhum neto de político moçambicano!
    Então senhores políticos, vamos parar com essa Putinice! (palavra oriunda de Putin. O Pseudo-Democrata)

    Vamos deixar os turistas em paz, e fomentar uma nova renda legal de impostos para as finanças do país.
    Corrupção também se combate ao se abdicar de leis estúpidas que só servem de fonte de renda para os corruptos.

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    1. Nem mais , "curto e grosso " , tá tudo dito :-)
      T

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    2. Passei por essa experiência de ao primeiro clik, no saguão do aeroporto de Maputo, me aparecerem 3 policias, aparentemente vindo cada um de um ponto diferente, e em tom ameaçador me dizerem que não podia fotografar ali.Ainda assim fiquei com o registro, pois não me pediram para deletar a imagem

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